25 de outubro 2014

Termina o ciclo de formações em Agroecologia para os Tremembé da TI Córrego João Pereira (CE)

A ação teve como objetivo iniciar sistemas agroflorestais na TI, como estratégia de redução dos impactos da seca, inserindo espécies mais resistentes à estiagem.

Entre os dias 1 a 4 de outubro, o Projeto GATI (Gestão Ambiental e Territorial Indígena – GEF/PNUD/Funai) realizou a 4a Oficina de Agroecologia para a Terra Indígena (TI) Córrego João Pereira (CE), do povo Tremembé. A oficina encerrou um ciclo de quatro módulos que começou em julho e teve como objetivo iniciar sistemas agroflorestais na TI, como estratégia de redução dos impactos da seca, inserindo espécies mais resistentes à estiagem. A ação também visou resgatar os conhecimentos tradicionais indígenas de agricultura e uso de recursos florestais para a subsistência.

A oficina aconteceu na aldeia São José e contou com a participação de 30 indígenas. Contou também com o apoio de Tiago Bezerra, técnico em agroecologia; Ronaldo Lopes, antropólogo da Ethnos; Everthon Damasceno, colaborador do povo Tremembé; de Ceiça Pitaguary da Coordenação Regional Nordeste 2 da Fundação Nacional do Índio (Funai).  A consultora regional do Projeto GATI, Isabel Modercin também acompanhou o evento. 

Aula prática durante a 4a oficina de Agroecologia para os Tremembé. Foto: ©Ronaldo Lopes

Como foram as oficinas?

Os módulos tiveram momentos de aulas teóricas e práticas onde os participantes aprenderam sobre os princípios da agroecologia e coletaram informações da biodiversidade local, fauna, flora, variedades de sementes, tipos de roças e plantas tradicionais.  Levantou-se também o potencial produtivo das aldeias e como as mesmas podem melhor direcionar a sua produção sem degradar o solo, valorizando suas plantas tradicionais. Registrou-se também que na região, em locais denominados de “serrotes”, existem áreas intocadas, com densa mata, com espécies nativas na região, que segundo os Tremembé, são áreas que devem permanecer preservadas.

Durante a quarta oficina, os participantes estudaram o local de plantar as mudas, com base nas características das espécies, prevendo a necessidade de água e “quebra vento”. Voluntários fizeram o “berço” das mudas, misturaram esterco e matéria orgânica seca e assim fizeram o plantio. Mulheres e crianças produziram novas mudas enquanto os homens podaram os cajueiros e outras fruteiras do quintal do Sr. José Odécio, local escolhido para aula prática.

Também houve exposição cultural onde os participantes apresentaram resultados de pesquisas realizadas entre os módulos. Os temas abordados foram “artesanatos”, “comidas tradicionais”, “sementes crioulas”, “variedades de mandioca”, “construções tradicionais” e outros. Francisco José e o cacique José Venâncio, lideranças da aldeia, enfatizaram a importância de valorizar e resgatar a sabedoria dos mais velhos que foram os principais informantes das pesquisas. 

Francisco José e Titi mostram as lagartas que serão cozidas para compor um dos pratos da exposição. Foto: ©Ronaldo Lopes

Nascem os microprojetos Tremembé

Durante a oficina, cerca de 14 pessoas se interessaram em elaborar Microprojetos Indígenas em Sistemas Agroflorestais (SAFs), nos seus quintas e roças. Sendo essas iniciativas de caráter coletivo, os proponentes decidiram que uma parte do recurso será destinada aos trabalhos em roçados e outra aos quintais. Os projetos estão sendo finalizados e serão enviados para análise até o final do mês.

Outro ponto levantado na oficina foi a possibilidade de continuidade nas ações de formação em agroecologia e ampliação da implantação dos SAFs para todas as aldeias. Os moderadores Tiago Bezerra e Isabel Mordercin falaram de fontes de apoio, como o Pronaf Floresta do Banco do Nordeste, que apoia diversas ações de fortalecimento da agricultura familiar aliada ao meio ambiente. Segundo os moderadores, essas fontes podem ser uma oportunidade para reflorestar áreas degradadas da TI com plantas de uso madeireiro como o sabiá, jurema, angico e outras.