19 de setembro 2014
Técnicos do Projeto GATI e da Funai visitam a TI Mangueirinha para discutir ações de gestão ambiental e territorial
Nos dias 31/08 e 01/09, técnicos do Projeto GATI e da Funai de Brasília, das coordenações: CGGAM (Coordenação Geral de Gestão Ambiental), CGEtno (Coordenação Geral de Etnodesenvolvimento), CGMT (Coordenação Geral de Monitoramento Territorial) e CTL Curitiba (Coordenação Técnica Local), visitaram a Terra Indígena (TI) Mangueirinha, a fim promover a integração entre as ações de gestão ambiental e territorial em curso na região. A visita englobou reuniões com lideranças e idas à campo.
Localizada no centro sul do estado do Paraná, a TI Mangueirinha é uma das áreas de referência do Projeto GATI. Habitada tradicionalmente pelos povos Kaingang e Guarani, a TI conta com vasta área de cobertura florestal nativa e preservada, onde predominam as exuberantes araucárias e outras espécies típicas dessa região da Mata Atlântica. Essa reserva florestal é de grande importância para os indígenas, pois fornece vários produtos extrativistas que são fontes de renda, tais como a erva-mate, o pinhão e o nó de pinho. Na TI, o Projeto GATI e a CGGAM vem atuando na gestão florestal sustentável e na valorização da agricultura tradicional indígena, esta ultima, por meio dois Microprojetos Indígenas, que implantaram um campo demonstrativo de sementes tradicionais para distribuição entre famílias interessadas, como também a participação indígena em encontros de agroecologia. A CGMT desenvolve a formação e presta apoio nas atividades do Grupo de Monitoramento Territorial Indígena. E a CGEtno tem dado suporte à produção agrícola.
No primeiro dia, os visitantes se reuniram na escola Kókoj Ty Han Ja-EIFF, na aldeia Sede, com as lideranças e monitores indígenas. Entre os temas abordados estão as questões sobre demarcação, ações de vigilância e monitoramento territorial, atividades econômicas produtivas que conta com o apoio da Aproinma (Associação dos Produtores Indígenas de Mangueirinha), que vão desde a lavoura mecanizada, até o extrativismo de produtos florestais. Lembraram também de iniciativas passadas, financiadas pelo governo do Estado, que apoiaram a construção de centros culturais, viveiro de mudas e a formação de uma “patrulha florestal”. Parte desse grupo de patrulheiros compõe hoje a equipe de monitores indígenas.
Citaram também alguns problemas enfrentados como a existência de passivos de empreendimentos, em virtude das duas rodovias que cortam a TI, duas linhas de transmissão da Copel (Companhia Paranaense de Energia) e uma barragem. Foi comentado que caçadores invadem a área pela faixa de servidão das linhas de transmissão. Há também a existência de áreas degradadas com necessidade de recuperação.
Programando o evento Diálogos Territoriais
Como encaminhamento ficou definido que o evento acontecerá ao longo de três dias, com espaços para debates, apresentações, exercício de etnomapeamento e encaminhamento de propostas e documentos. A organização estará a cargo do Projeto GATI, a CGMT, CGGAM, CGEtno, CLT de Curitiba e da Aproinma.
Visitas à campo
Durante a reunião, Justino Karaí, vice cacique de Palmeirinha, trouxe sua preocupação em recuperar uma área degradada que fica próximo à nascente do rio que abastece a aldeia. Terminada a reunião, os técnicos do GATI e Funai foram até o local para avaliar as possibilidades de implementar um projeto de recuperação. Robert Miller, coordenador técnico do Projeto GATI, enfatizou que, em virtude da área se tratar de uso coletivo/comunitário, é importante que a iniciativa tenha de fato o protagonismo indígena e que seja apropriada pela comunidade para que gere resultados duradouros. Como por exemplo, o envolvimento dos alunos da escola e da comunidade em todas as etapas da recuperação. "Além desses acordos comunitários, é necessário também arranjos locais de parceria com instituições para apoio técnico e acompanhamento", afirmou o coordenador.
O pai do cacique os orientava a subir nas árvores para cortar os galhos e não o tronco principal, porém essa não foi a prática geral. “Se houvesse um planejamento para manejar a coleta de erva em um ano e nos anos seguinte trabalhar com outros produtos, como tirar palanque de imbuia (de árvores mortas, caídas) e nó de pinho, e em seguida retornar a coleta do mate, as árvores teriam se recuperado”, disse. Visando entender melhor o potencial do extrativismo da erva-mate na TI Mangueirinha, o Projeto GATI está iniciando um estudo sobre os arranjos produtivos local do produto, com apoio de técnico com a experiência na extração do mate orgânico com certificação na TI Marrecas (PR).
O encerramento das visitas se deu na companhia de Adelar Rodrigues que levou a equipe para uma área de floresta onde é feita a extração dó de pinho. O acesso ao local passa por áreas de taquara e “mata preta”, onde há abundância do xaxim – samambaia gigante (Dicksonia sellowiana), outrora muito explorada para fazer vasos de plantas, até sua inclusão na Lista Oficial de espécies da flora ameaçadas de extinção pela Portaria 37-N (03/IV/1992) do Ibama. O nó de pinho é extraído de araucárias mortas, cuja madeira encontra-se em estado de decomposição, restando os nós que pelo conteúdo de resina são extremamente resistentes. Os nós extraídos são levados até a beira da BR, onde o comprador os recebe, pagando o valor de R$ 150/m3.
A visita à TI Mangueirinha evidencia a grande importância da sua floresta, que não só fornece serviços ambientais à sociedade em geral, tais como a preservação da biodiversidade, manutenção de recursos hídricos e regulação do clima, como também é fonte de renda para as comunidades indígenas que a ultiliza de forma sustentável, por meio do seu uso múltiplo.
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