20 de outubro 2014

Projeto GATI apoia ações de extrativismo e recuperação ambiental na TI Xakriabá

Elaboração de mapa mental na aldeia Barreiro Preto. Foto: ©Carlos Ferraz/Projeto GATI

Entre os meses de agosto e setembro, a Associação Indígena Xakriabá da Aldeia Barreiro Preto (AIXBP) juntamente com Projeto GATI (Gestão Ambiental e Territorial Indígena - GEF/PNUD/Funai) e parceiros iniciaram as atividades da iniciativa “Fortalecimento do Extrativismo Tradicional Xakriabá nas áreas de Cerrado e Caatinga da TI Xakriabá”. A ação visa promover a valorização do conhecimento tradicional indígena de extrativismo para o uso e produção sustentável de produtos florestais não madeireiros das áreas de Caatinga e Cerrado na TI. Visa também a promoção da segurança alimentar e nutricional Xakriabá e ao mesmo tempo, incentiva a geração de renda, facilitando o acesso dos produtos indígenas ao mercado.

A iniciativa é executada pela AIXBP e tem apoio técnico, logístico e financeiro do Projeto GATI, do Centro de Agricultura Alternativo do Norte de Minas Gerais (CAA), da Coordenação Regional Minas Gerais e Espírito Santo/Funai e Coordenação Técnica Local de São João das Missões/Funai e do Programa Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-Ecos) administrado pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).

Ritual Xakriabá, durante abertura da oficina na aldeia Caatinguinha. Foto: ©Carlos Ferraz/Projeto GATI

As oficinas de diagnóstico participativo

O primeiro passo inicial da iniciativa aconteceu em junho, a partir de um calendário de ações, definido em junho durante a primeira reunião de mobilização (saiba mais). Em agosto foram realizadas as oficinas de diagnóstico participativo do extrativismo Xakriabá, nas aldeias Barreiro Preto, Caatinguinha, Vargens, Sumaré e Peruaçu. Participaram da oficina cerca de 150 pessoas, dentre elas: pajé, grupos de cultura, comunidade escolar, AIS, lideranças e membros das associações indígenas.

Durante as oficinas os Xakriabá elaboraram mapas mentais dos ecossistemas da TI onde foram destacados os pontos de coleta de frutos e remédios do Cerrado e da Caatinga. Esses mapas proporcionaram reflexão sobre o território, o extrativismo praticado e sua sustentabilidade.

Exemplo de mapa colaborativo, aldeia Barreiro Preto. Foto: ©Carlos Ferraz/Projeto GATI

Também construíram uma matriz, contendo as frutas consideradas mais importantes, tais como pequi, buriti, coquinho azedo, umbu, cabeça de nego, cagaita, cajuzinho e outras. A matriz também destacou espécies, período de florada e coleta, como, quem e onde coletam; equipamentos e estruturas usadas. Na ocasião, os Xakriabá definiram  os extrativistas responsáveis pela mobilização comunitária a fim de fazer coleta e beneficiamento dos frutos em seus períodos.

Na aldeia de Peruaçú em especial, foi feita uma breve apresentação e diálogo sobre o “Projeto Ações de Recuperação das Veredas da Aldeia do Peruaçu e do Fortalecimento do Agroextrativismo na aldeia Sumaré II”. O projeto foi recentemente aprovado no 19° edital do PPP-ECOS e tem como proponente a Associação Indígena Xacriabá Aldeias Sumaré II / Peruaçu. A sua elaboração técnica também foi via Projeto GATI. A iniciativa visa cercar 400 hectares de vereda na aldeia Peruaçu, para evitar o pisoteio do gado da região e com isso proporcionar a recuperação de uma importante área que se encontra degradada da TI Xakriabá. O projeto vai contemplar ainda um curso com os extrativistas da aldeia Sumaré II sobre manejo, produção, beneficiamento dos produtos extrativistas das veredas e apoiar a estrutura de uma mini usina de beneficiamento dos frutos.

Nessas oficinas também foram definidas estratégias para acessar o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Para isso, agendaram reuniões entre as lideranças Xakriabá com a Secretaria Municipal de Agricultura de São João das Missões e a diretoria das escolas da TI a fim de esclarecer dúvidas e estabelecer formas de apoio.

A oficina traduzida em poesia

Durante a oficina, a jovem Maiane Barbosa, escreveu e declamou uma poesia que reflete o processo de aprendizado e diálogo que todos presenciaram. Leia abaixo, na íntegra a poesia:

“Nesta oficina

Aprendi o que eu não sabia

Vou levar esta lição hoje e todo dia.

Agradeço a Deus

Por estar aqui

Aprendi sobre as frutas

E também sobre o pequi

 

Aqui na aldeia Caatinguinha

Tem frutos com fartura

Tem cagaita e umbú

Que dá pra fazer doce com rapadura

 

O pequi é um santo remédio

E também serve para alimentar

Dá pra fazer paçoca

Para nós povo Xakriabá

Nós estamos aqui com muita felicidade

Aprendendo sobre as frutas

E as suas utilidades

 

Os frutos da reserva

Devemos preservar

Faz parte da cultura

E do dia a dia dos Xakriabá

A cabeça de negro

Presta bastante atenção

Não rume pau nos galhos

Quando tá madura ele cai no chão

 

Quando chegar a colheita

É hora de conversar

Devemos mobilizar as pessoas

 Para os frutos ir pegar

Agosto e setembro

A cagaita começa a florescer

Janeiro e fevereiro

Já é hora de colher

 

Quando for colher umbu

Basta apenas balançar

Pois maduro ele cai

Não precisa os galhos quebrar

Um grupo ficou definido para estas frutas coletar

Vamos fazer tantas coisas

E não podemos desperdiçar

 

Obrigada a todos

Por esta explicação

Aprendi muito e vou levar esta lição”.