15 de junho 2015
Projeto GATI apoia a 1ª Feira de Troca de Sementes, Sabores e Saberes na Terra Indígena Andirá-Marau (AM/PA)
Nos dias 11 a 13 de junho, com apoio do Projeto GATI para a mobilização indígena, foi realizada a 1ª Feira de Troca de Sementes, Sabores e Saberes e Assembléia Geral do Povo Sateré-Mawê, na Aldeia Simão, Terra Indígena Andirá-Marau, localizada entre os estados do Amazonas e Pará. A Feira foi uma iniciativa do Projeto Warana, que é realizado por um conjunto de instituições, sendo estas o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o Consórcio dos Produtores Sateré-Mawê (CPSM), a Secretaria de Estado de Produção Rural do Amazonas (Sepror), o Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), o Instituto Federal do Amazonas (Ifam), campus de Presidente Figueiredo, e o Centro de Sementes Nativas do Amazonas, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Conforme a Dra. Sonia Alfaia, do Inpa e coordenadora do Projeto Warana, o financiamento por meio de recursos da Petrobrás Socioambiental permitiu ao projeto apoiar atividades produtivas sustentáveis com enfâse na agroecologia, como a produção de mudas, implementação de sistemas agroflorestais, capacitação na coleta de sementes florestais, implantação de hortas escolares e produção de composto orgânico, visando a segurança alimentar e geração de renda nas comunidades Sateré-Mawê.
A Feira iniciou-se na manhã do dia 11 de junho, com um café da manhã com produtos regionais e indígenas.
Em seguida, o Tuisá (liderança) Obadias Garcia fez a abertura, seguido por apresentações dos trabalhos dos parceiros e convidados. Por parte do Projeto GATI, o Coordenador Técnico Robert Miller fez uma breve retrospectiva das ações realizadas, citando o apoio à elaboração da proposta de Plano de Gestão Territorial e Ambiental da TI Andirá-Marau, aprovada recentemente em edital do Fundo Amazônia/BNDES (saiba mais), e o edital de pequenos projetos do Projeto GATI (PPP GATI), ainda em processo de seleção de propostas (saiba mais). Ramon Morato apresentou os trabalhos com agroecologia e agroflorestas feitos pelo Idesam no âmbito do Projeto Warana, envolvendo o plantio de guaraná e pau rosa, enquanto Eudisvam Araújo (Ufam) trouxe informações sobre a capacitação de jovens Sateré-Mawê na coleta de sementes florestais, que envolve a seleção de árvores matrizes e indicação de Áreas de Coleta de Sementes-ACS. Hoje, dos 57 Sateré-Mawê capacitados, 42 estão cadastrados como coletores de sementes no Registro Nacional de Produtores de Sementes e Mudas (Renasem) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em seguida, Clara Vignoli e João Gabriel Raphaelli, alunos de mestrado do Inpa, apresentaram os estudos que realizarão no âmbito do Projeto Warana, sendo estes, respectivamente, o levantamento das práticas de manejo dos guaranazeiros e árvores consorciadas no sistema tradicional de produção e a quantificação do estoque de carbono nestes sistemas.
Na parte da tarde ainda do dia 11, Terezinha Dias, agrônoma da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), trouxe um histórico das Feiras de Sementes realizadas em diversas regiões do Brasil, que se iniciou com feira na TI Krahô, em 1997, em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai). Conforme Terezinha, as feiras são um importante método participativo de promoção do manejo comunitário da agrobiodiversidade, e atualmente vem se multiplicando em várias regiões do Brasil. Convidados para participarem da Feira, os indígenas Davi Sapará e Elinaldo Silva (Macuxi),estudantes do Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol, apresentaram um vídeo sobre as três feiras de sementes tradicionais indígenas realizadas em Roraima, e estenderam convite para a 4ª Feira, que acontecerá em outubro deste ano.
Após o jantar, as discussões continuaram, com a presença de técnicos da Coordenação de Indicação Geográfica do Mapa, que está ajudando os Sateré-Mawê no processo de registro de “Denominação de Origem” do guaraná junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi). Para os Sateré-Mawê, que se consideram “filhos do guaraná”, o selo de Denominação de Origem reconhecerá legalmente a diferenciação do guaraná que produzem, tanto pelas características ambientais específicas da TI, como no emprego das práticas tradicionais de cultivo e beneficiamento que resguardam a diversidade genética da espécie, pois as mudas são colhidas de matrizes semi-silvestres em áreas de floresta distantes das aldeias. A Denominação de Origem fortalecerá as demais certificações do guaraná dos Sateré-Mawê tais como orgânica e comércio justo, que hoje garantem a qualidade do produto e permitem alcançar o mercado europeu, com melhores preços. Para Obadias Garcia, “a mitologia diz que os Sateré são filhos do guaraná, mas não existe nada no papel. Dessa forma, a Denominação de Origem, que vai reconhecer isto juridicamente”. Após essa discussão, outras possiblidades de agregação de valor ao guaraná foram levantadas, tal como o registro de patrimônio imaterial, conforme apresentado por técnicas do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que explicaram o processo de reconhecimento e registro. Em seguida, a técnica Cecília Piva da Coordenação Geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento-CGEtno/Funai falou do selo de produtos indígenas, o “Selo Indígenas do Brasil”, que é uma parceria da Funai com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), saiba mais.
No segundo dia (12/06), técnicos das instituições parceiras e convidados fizeram visita a guaranazais, primeiro na própria Aldeia Simão, acompanhados pelo vice-tuisá Bernardino, e em seguida, na comunidade Nova União, acompanhados pelo agente ambiental Leonson Batista. Nesta comunidade puderam ver o sistema de cultivo de guaraná em consórcio com árvores nativas, entre elas o pau-rosa, e também a criação de abelhas nativas sem ferrão.
O pau-rosa é de especial interesse dos Sateré-Mawê, pois foi uma espécie explorada até a quase extinção na região para extração do seu óleo essencial, o linalol, usado na perfumaria. Hoje, com apoio dos parceiros, a espécie está sendo replantada, com mudas trazidas da floresta ou produzidas em viveiro, com a perspectiva de produção de óleo a partir da poda de folhas e galhos, sem cortar a árvore.
Ao longo do dia 12 as lideranças Saterê-Mawe continuaram sua assembleia, que encerrou no dia 13.