22 de maio 2015
Indígenas do Nordeste debatem experiência de ATER Indígena promovida pelo Centro Sabiá e Projeto GATI
Foi realizado no dia 12/05, em Recife-PE, o seminário de avaliação da experiência de Assessoria Técnica e Extensão Rural (ATER) desenvolvida pelo Centro de Desenvolvimento Agroecológico – Centro Sabiá para povos indígenas das áreas de referência do Projeto GATI (Gestão Ambiental e Territorial Indígena), no Núcleo Regional Nordeste 1. A experiência é fruto de Carta de Acordo entre o Centro Sabiá, o Projeto GATI, a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF). A parceria proporcionou ações de ATER em Agroecologia e formação de jovens multiplicadores, a cinco grupos indígenas do Nordeste, sendo estes Potiguara (PB), Kiriri (BA), Atikum (BA), Pankararé (BA) e Pankararu (PE), cujos representantes, dentre eles caciques, lideranças e jovens estavam presentes no seminário. Além de técnicos do Centro Sabiá, da Funai e do Projeto GATI, representantes do povo Xukuru de Ororubá (PE), também acompanharam o evento.
Avaliando a experiência de ATER Indígena
Entre rodas de toré, que celebrou o reencontro de todos os povos que participaram da experiência, o seminário trouxe uma linha do tempo com as principais ações realizadas. Os indígenas relataram o que foi mais marcante nesses momentos, destacando os resultados alcançados. Logo em seguida, desenharam mapas mentais dos seus territórios indicando os locais onde as ações foram desenvolvidas.
O professor José Nunes, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, convidado pelo Centro Sabiá para sistematizar as atividades de ATER Indígena, apontou os principais desafios e oportunidades que a experiência deixa como legado. Para realizar este balanço, o professor esteve nas áreas onde a experiência foi realizada e entrevistou os principais atores envolvidos. Dentre os destaques viu-se que as experiências de ATER para povos indígenas precisam considerar as questões territoriais, o fortalecimento das identidades indígenas e suas práticas culturais, para que esse trabalho possa se inserir em cada realidade. É preciso ainda valorizar o conhecimento tradicional indígena relacionado às práticas agrícolas e sua sustentabilidade. Nesse tópico, o professor apontou que em muitas aldeias, essas práticas tradicionais foram sendo descontruídas pelo próprio Estado brasileiro, o qual trouxe pacotes de ATER convencional que não respeitaram questões socioculturais e inseriram métodos da “revolução verde”, como a agricultura intensiva com monoculturas e o uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos. “Se estão usando veneno nas lavouras é porque essas instituições ensinaram e assim influenciaram os indígenas, com o passar dos anos isso vem provocando a perda dos saberes tradicionais”, disse.
Outra reflexão foi sobre a importância da articulação entre parceiros institucionais envolvidos na experiência de ATER Indígena e como cada um contribui. De acordo com o professor Nunes, o movimento indígena organizado é peça chave nessa articulação e deve assumir o papel de mediador desse processo. As ações de ATER também precisam considerar questões de distância e especificidades geográficas, pois cada região tem seus dilemas climáticos e ambientais, como é o caso da escassez de água no semiárido.
O trabalho de formação de jovens indígenas também foi apontado como estratégico, tendo em vista que estes são agentes multiplicadores nas suas aldeias. Durante as formações houve uma intensa troca de saberes por meio da presença dos anciões, que são os detentores do conhecimento tradicional indígena sobre as práticas de agricultura e também os principais defensores da transmissão e troca de conhecimentos para as futuras gerações. Ademais, de acordo com o professor Nunes, é preciso considerar o combate ao preconceito e reafirmar a identidade indígena juvenil, para que estes saibam qual o seu papel no meio em que vivem.
Maria Aureliano, Coordenadora Pedagógica do Centro Sabiá, avalia a experiência como um grande aprendizado para a instituição, tendo em vista que esta é a primeira vez que prestam assistência técnica a povos indígenas. Apesar das dificuldades, sobretudo em virtude das distâncias entre os territórios, a coordenadora pondera que tanto no trabalho com os povos indígenas e como também agricultores familiares, deve-se considerar a construção coletiva do conhecimento, o resgate de práticas tradicionais e o respeito às especificidades culturais. “Esta é a base para o trabalho de Agroecologia defendido pelo Sabiá. A escuta e a construção coletiva foram acertos nesse processo de ATER Indígena”, completou.
Para Maíra Potiguara, diretora de uma das escolas que participou ativamente das atividades na TI Potiguara (PB), a experiência contribuiu para mostrar outro olhar de cultivo da terra, com cuidado e sustentabilidade. “Por estarmos inseridos numa terra indígena sabemos que precisamos cuidar da nossa mãe natureza, pois dependemos dela para viver”.
O coordenador de gestão do Projeto GATI, Fernando Moretti, avaliou o seminário e os resultados da Carta de Acordo como muito proveitosos. Segundo Moretti os resultados das ações e o comprometimento das comunidades envolvidas demonstram um fortalecimento das iniciativas de agricultura agroflorestal nas comunidades indígenas que impactam diretamente na conservação da biodiversidade desses territórios.