9 de dezembro 2014
Evento discute gestão ambiental e territorial na Terra Indígena Mangueirinha (PR)
A Terra Indígena (TI) Mangueirinha, localizada no sudoeste do Paraná, promoveu nos dias 28 a 30 de novembro o evento “Diálogos Territoriais”, que teve como objetivo debater as iniciativas de gestão territorial e ambiental em curso na região e como estas podem acontecer de forma mais integrada. Durante o evento também foi feito um exercício de etnomapeamento da Terra Indígena com temáticas pertinentes à realidade dos povos Kaingang e Guarani que habitam a região. Participaram as principais lideranças das aldeias da TI e o grupo de monitoramento territorial. O evento foi uma realização da Coordenação Geral de Monitoramento Territorial da Fundação Nacional do Índio (CGMT/Funai), da Coordenação Geral de Gestão Ambiental (CGGAM/Funai), do Projeto GATI (Gestão Ambiental e Territorial – PNUD/GEF/ Funai), da Coordenação Regional Interior Sul Sul/Funai, Coordenação Técnica Local de Curitiba e da Associação dos Produtores Indígenas de Mangueirinha (Aproinma).
Dialogando sobre o território
No primeiro dia, o debate foi mediado pelo cacique Milton Alves Kaingang e contou com a presença de lideranças mais velhas que falaram dos principais acontecimentos que mudaram o rumo dos povos indígenas daquela região. Sr. José Ferreira (Kaingang) contou sobre como os indígenas lutaram pela reconquista do território contra grandes latifundiários e destacou a importância da conservação ambiental da TI. “Se estamos conservando até hoje é porque nós temos nossos filhos e netos, a nossa futura geração que vai precisar dessa terra conservada”, afirmou.
Já o Sr. José dos Quadros (Guarani) afirmou que por conta de invasões ao território e alguns casos de arrendamento no passado, a região da aldeia Guarani de Mangueirinha, tinha sido devastada. “Eles tiravam muita madeira, destruíram muito, não se via mais animais. Mas deixamos a mata nascer de novo, já temos nascente com água, os animais retornaram. Essa floresta é para o sustento dos nossos netos e para que eles conheçam como é a nossa terra e como é a natureza”, disse.
Na parte da tarde, o coordenador técnico do Projeto GATI, Robert Miller, falou sobre o histórico do Projeto e suas principais linhas de ação. O mesmo enfatizou que os indígenas de Mangueirinha já fazem gestão ambiental e territorial e o papel do Projeto é de apoiar os processos em curso. Em seguida o coordenador de PGTAs do GATI, Ney Maciel fez uma introdução sobre o que é etnomapeamento para dar base ao exercício que aconteceria no dia seguinte.
Mapeando o território
O exercício de etnomapemento do segundo dia seguiu as três principais temáticas abordadas durante o dia anterior, que foram: “vigilância e monitoramento territorial”, “os empreendimentos que impactam a Terra Indígena” e “Recuperação Ambiental/Extrativismo”. O mapa de vigilância e monitoramento territorial apontou as principais ameaças da TI, tais como os locais de invasões por caçadores. Da mesma forma, o mapa de empreendimentos mostrou os impactos provocados por obras como as linhas de transmissão de energia que cortam o território, a rodovia estadual e federal, e uma barragem, dentre outros. O mapa de recuperação, ambiental mostrou os locais que necessitam de recuperação e também apontou as áreas de floresta que os indígenas utilizam para extrativismo de produtos como o pinhão, erva-mate e nó de pinho.
Na parte da tarde, a equipe do Projeto GATI foi a campo para conhecer alguns dos pontos apontados nos mapas como locais importantes, como “as águas santas” que são nascentes e cachoeiras dentro da TI que, de acordo com relatos dos mais velhos, foram bentas pelo monge José Maria na época da Guerra do Contestado (1912-1916). A visita também englobou uma ida ao “pinheiro grande”, uma araucária, que acredita-se ter mais de 500 anos de idade.
Encaminhamentos
A TI Mangueirinha é um dos principais remanescentes de floresta de araucária do Brasil, e é de grande importância os serviços ambientais que essa floresta fornece à sociedade em geral, tais como a preservação da biodiversidade, manutenção de recursos hídricos e regulação do clima. Ela também é fonte de renda para as comunidades indígenas que a utiliza de forma sustentável, por meio do seu uso múltiplo. “O índio que preserva sua cultura, preserva a sua mata, caso contrário não teríamos de onde tirar material pro nosso artesanato, pintura, comida e todos os elementos da nossa sobrevivência”, afirmou o cacique Milton.
Durante as discussões, ficou claro a importância da conservação florestal para os povos que vivem na TI e um dos encaminhamentos do evento foi a necessidade de ações de recuperação ambiental de áreas degradadas e um viveiro de mudas com espécies nativas, tais como araucárias, erva-mate, cedro e outras. A ação proposta será coordenada pelo grupo de vigilância em parceria com o Projeto GATI. Para Rosa Villanueva, consultora do GATI para o Núcleo Regional Mata Atlântica Sul, a TI Mangueirinha é Área de Referencia do Projeto devido a sua grande importância socioambiental. “Por isso desenvolvemos ações estruturantes que valorizam a biodiversidade e modos tradicionais indígenas de conservação e promoção da segurança alimentar”, contou.
Para Priscila Feller, da CGMT/Funai, o evento foi um grande motivador para os indígenas pensarem a gestão ambiental e territorial de forma mais integrada e coletiva. “Essas ações também qualifica o trabalho da Funai, que articula trabalhos em conjunto com outras coordenações, com a CR, com o Projeto GATI e também com as diretrizes da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental-PNGATI”. Já o coordenador da CR Interior Sul da Funai, Antônio Izomar, acredita que a participação ativa dos líderes de Mangueirinha no evento demonstra que estão engajados em gerir o seu território aliando a gestão à conservação. A consequência de tudo isso, conforme o coordenador, “será o benefício coletivo de todas comunidades indígenas da TI”.