15 de maio 2014
No segundo dia de formação, cursistas conhecem o caroá e conversam com os anciãos Pankararu
Os participantes saíram de Petrolândia e foram conhecer de perto, nas aldeias, as experiências que representam os projetos de vida dos Pankararu.
No segundo dia de curso (13/05), os participantes saíram de Petrolândia e foram conhecer de perto, nas aldeias, as experiências que representam os projetos de vida dos Pankararu. Essas atividades também tiveram como objetivo promover reflexões sobre os conhecimentos tradicionais e visão de mundo dos Pankararu por meio de histórias e mitos, e a relação histórica deles com o Estado brasileiro.
A primeira parada foi na aldeia Baixa do Lero que fica na Terra Indígena (TI) Entre Serras, que também é uma das áreas de referência do Projeto GATI – PNUD/GEF/Funai (Gestão Ambiental e Territorial Indígena). No local foram recebidos pelo Sr. Antônio Silva, ou “Antônio da Baixa”, como é conhecido, um indígena Pankararu conhecedor e liderança., que apresentou à turma o “caroá”, uma bromélia da caatinga da espécie Neoglaziovia variegata, que fornece longas fibras, de grande resistência e durabilidade e é considerada sagrada para os povos Pankararu. Dessas fibras se fabricam as vestimentas cerimoniais de rituais e bolsas. Os Pankararu estão tentando repovoar o seu território com o caroá, para assim recuperar áreas degradadas e obterem em abundância, a matéria prima para fabricação das suas vestimentas sagradas. “Para mim foi um prazer receber todos vocês aqui no meu roçado e falar dessa planta que é tão importante pra nossa tradição que é o caroá”, afirmou Sr. Antônio.
Logo depois, todos se deslocaram para aldeia do Brejo dos Padres, na TI Pankararu a fim de participar de uma roda de conversa com os anciãos da comunidade. Foram recebidos pelo Sr. João Oliveira Pankararu e seu irmão, o ancião Sr. Genésio. Ambos puderam contar um pouco da história de formação do território Pankararu e ainda discorrer sobre o início da tensão provocada pelos projetos de infraestrutura que impactaram e ainda impactam a sua área, como exemplo a usina hidrelétrica Luiz Gonzaga e a Transposição do São Francisco - Eixo Leste.
“Temos um território com 8.500 hectares para uma população de aproximadamente 7 mil índios. Conquistamos com muita luta, mas é uma área muito pequena. E sem contar com os 800 posseiros que vivem aqui na nossa terra. E somente um fazendeiro tem aproximadamente 15 mil hectares, nos arredores da terra”, falou Sr. João Oliveira Pankararu. “Nós temos aqui a nossa tradição, estamos educando nossos filhos para que eles tenham conhecimento do mundo lá fora, que possam se defender e falar com firmeza, mas é importante também que eles não desprezem nossos antepassados, que valorizem nossa cultura”, disse Sr. Genésio.
Após a roda de conversa, os anciãos convidaram a todos para cantar ou dançar algo de sua cultura, a fim de celebrarem juntos a diversidade cultural de tantos povos indígenas presentes naquele momento.
Visita ao viveiro de mudas da comunidade de Bem Querer de Cima
Os cursistas também foram conhecer o viveiro de mudas da comunidade de Bem Querer de Cima, também localizado na TI Pankararu. A iniciativa faz parte do Plano Básico Ambiental (PBA) elaborado para minimizar os impactos do empreendimento que está construindo linhas de transmissão de energia da usina hidrelétrica Luiz Gonzaga, que passa no território indígena. Foram eleitos pelas comunidades seis programas, sendo dois deles dedicados ao reflorestamento/ viveiro de mudas e monitoramento de fauna. Outro eixo escolhido foi a gestão compartilhada de um fundo rotativo para projetos.
Eronides Andrade, o “Nidinho”, liderança Pankararu e técnico do IPA (Instituto Agronômico de Pernambuco), informou que a ação de reflorestamento já se encontra bastante adiantada com a produção de mudas. A ação possui monitores que fazem o monitoramento da fauna e flora e lidam com atividades do viveiro. “Apesar de termos pouco tempo, as pessoas de outras comunidades já estão nos visitando interessadas em conhecer a nossa experiência. E assim vamos disseminar em outros locais a questão da revitalização das nascentes e dos riachos, que ao longo do tempo sofreu supressão da vegetação por conta dos impactos ambientais”, informou Nidinho.
Durante a visita os cursistas conheceram como as comunidades Pankararu vêm lidando com mais um empreendimento que impacta suas terras e como estes se organizaram para assim fazer valer os seus direitos e garantir a participação e controle social na elaboração e implementação do PBA. “Nossos caciques e todas as comunidades têm participado ativamente das reuniões e das decisões. Eles também têm visitado e participado das atividades que já estão sendo executadas”, informou a líder comunitária Carmem de Andrade.
Saiba mais:
- Rio São Francisco é homenageado na abertura do 1o Módulo do Curso Básico de Formação em PNGATI para o Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (14/05/2014);
- Indígenas e servidores públicos do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo, participam do primeiro módulo do Curso Básico de Formação em PNGATI (09/05/2014).