17 de novembro 2014
Conhecimentos tradicionais e atividades produtivas são debatidos nos dois últimos dias de curso PNGATI para o Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo
[3º módulo do Curso Básico de Formação em PNGATI para o Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo]
Uma feira de troca de sementes tradicionais abriu o penúltimo dia de aula (06/11), que debateu o Eixo 5 e 6 da PNGATI, sobre atividades produtivas e conhecimentos tradicionais. Na ocasião, os cursistas falaram das variedades e os significados que as sementes representam para sua cultura. “As nossas sementes são o princípio sagrado do nosso território”, disse José Paulo Kiriri.
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José Paulo Kiriri na feira de troca de sementes tradicionais. Foto: ©Andreza Andrade
Sobre o Eixo 6, a bióloga Maira Smith, da Coordenação Geral de Gestão Ambiental (CGGAM/Funai), convidada para mediar o debate, abordou conceitos usados nas discussões de conhecimentos tradicionais, tais como “patrimônio e código genético”, “ biodiversidade”, “ pirataria”, entre outros. Segundo a bióloga é muito importante que todos os cursistas se apropriem desse assunto e possam leva-lo às suas bases para evitar casos onde o saber tradicional indígena corre risco de usado por terceiros visando interesses do mercado. A bióloga também tratou da linha do tempo dos fatos principais da temática proteção dos conhecimentos tradicionais, tais como a Conferência sobre a Diversidade Biológica (CDB), o Tratado da FAO sobre Agrobiodiversidade, a criação do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), a Medida Provisória 2186-16/2001, o Protocolo de Nagoya e outros acontecimentos.
Já o Eixo 5 foi abordado por meio de apresentações de iniciativas produtivas em curso tanto na terra indígena Tupiniquim Guarani, quanto em outras regiões do estado do Espírito Santo. A convidada Juliana Couro, apresentou o programa Reflorestar do Instituto Estadual de Meio Ambiente (IEMA). Trata-se de uma iniciativa de pagamentos de serviços ambientais para reflorestadores. O programa é desenhado para propriedades rurais privadas, mas já existe uma articulação, com apoio do Projeto GATI, de levá-lo também para os Tupiniquim e Guarani.
Luís Claudio Bona, do Programa de Sustentabilidade Tupiniquim e Guarani, da Kamboas Socioambiental, também apresentou as ações de recuperação ambiental associadas à agroecologia, que vem sendo desenvolvida em parceria com famílias indígenas da TI Tupiniquim e Guarani. A iniciativa faz parte das ações de responsabilidade socioambiental da Fibria Celulose para conseguir certificação pelo FSC (Forest Sterwardship Council).
E o professor Antônio Marcos do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) trouxe uma abordagem do turismo como possibilidade de atividade de geração de renda para os indígenas.
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Conversa sobre atividades produtivas sustentáveis. Foto: ©Andreza Andrade/Projeto GATI
Áreas protegidas, unidades de conservação e terras indígenas
O ultimo dia (07/11) foi dedicado a debater o Eixo 3 da PNGATI que se refere às questões de sobreposições de unidades de conservação e terras indígenas. Novamente a bióloga Maira Smith conduziu o tema falando do Grupo de Trabalho Interinstitucional (GTI), formado pela Funai e ICMBio instituído pela Portaria Conjunta nº 1, de 29 de maio de 2013. O Grupo é um importante passo para o diálogo entre esses dois órgãos e tem como objetivo dirimir e analisar situações de sobreposições de TIs e UCs federais e avaliar casos onde há conflitos para assim propor medidas para implementação de ações de gestão territorial e ambiental com base nas diretrizes da PNGATI. Tais medidas podem ser Acordo de Convivência, Acordo de Gestão, Planos de Gestão Ambiental e Territorial, Termo de Ajustamento de Conduta e outros.
A importância da participação indígena nos conselhos de unidades de conservação
O analista ambiental do ICMBio, Leandro Chagas trouxe um panorama da situação das unidades de conservação do Espírito Santo em sobreposição com a TI Tupiniquim e Guarani. Na sua fala Chagas alertou sobre a importância dos povos indígenas participarem ativamente dos conselhos das unidades de conservação para assim contribuírem na busca de soluções conjuntas.
Os cursistas também trouxeram casos semelhantes nas suas regiões. Levantaram a existência e atuação de conselhos e quais os desafios enfrentados. Um dos casos citados foi a situação da Estação Ecológica Raso da Catarina, localizada na região do baixo rio São Francisco (BA) e que está contígua aos territórios dos Pankararé e Tuxá. A Estação abriga diversas espécies de animais em extinção dentre elas a Arara-Azul-de-Lear. De acordo com o cursista José Dipeta, do povo Tuxá, há um conselho da Estação que se reúne eventualmente e conta com a participação de indígenas. “O conselho existe, mas é necessário que haja formação para que os conselheiros saibam de fato do seu papel e possam contribuir para uma gestão compartilhada desses locais”, afirmou.
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