2 de dezembro 2014

IFMS certifica a "Família GATI" no curso de Agricultor Agroflorestal

Instituto Federal do Mato Grosso do Sul certificou no último sábado, 29, os integrantes da "Família GATI", pela conclusão do curso Agricultor Florestal. O grupo de formandos são famílias Terena que participam das ações do Projeto GATI no Mato Grosso do Sul.

Formandos e professores com o pajé Quintino abençoando a cerimônia de formatura. Foto: ©Leosmar Antônio

Com informações da ASCOM/IFMS

O Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) fez a primeira certificação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) voltada exclusivamente aos povos indígenas. Trinta estudantes da etnia Terena receberam os certificados do curso de Agricultor Agroflorestal, oferecido pelo Câmpus Aquidauana.

A certificação ocorreu no sábado, 29, na escola da comunidade Mãe Terra, localizada na Terra Indígena Cachoeirinha, em Miranda (MS).

Na cerimônia, apresentada na língua terena e em português, o pajé deu as boas-vindas aos convidados e abençoou os estudantes. Os indígenas também fizeram apresentações musicais para celebrar a certificação.

A reitora, Maria Neusa de Lima Pereira, estava presente. “Vocês estão recebendo o certificado do IFMS e espero que sejam egressos por pouco tempo. A instituição tem todas as condições de voltar para oferecer outros cursos nas aldeias”, comentou.

Também participaram da cerimônia o diretor-geral do Câmpus Aquidauana, Delmir da Costa Felipe; o coordenador-geral do Pronatec no IFMS, Marcelo Oliveira; além de gestores e lideranças indígenas e parceiros na oferta do curso.

Formandos Família GATI. Foto:©Leosmar Antônio

Qualificação – A oferta do curso foi um complemento ao Projeto de Gestão Ambiental e Territorial Indígena (GATI), desenvolvido desde 2012 pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em seis terras indígenas de Mato Grosso do Sul.

Com carga horária de 200 horas e oferecido na modalidade Formação Inicial e Continuada (FIC), o curso começou em abril e foi ministrado aos finais de semana nas aldeias Argola, Babaçu, Cachoeirinha, Lagoinha e Mãe Terra. Dos sete professores, quatro eram indígenas.

O projeto de qualificação foi elaborado com a ajuda dos indígenas. “As reuniões começaram em 2012, quando eles começaram a definir qual curso seria oferecido, o conteúdo e a metodologia a ser aplicada”, explicou o professor do IFMS e supervisor do curso, Aislan Vieira de Melo.

Além de português, matemática e empreendedorismo, os terenas receberam informações sobre o cultivo de espécies florestais e agrícolas e os Sistemas Agroflorestais (SAFs), em que várias culturas são cultivadas em um mesmo espaço para melhorar o meio ambiente como um todo. O processo inclui ainda o uso de adubo verde e de sistemas agroecológicos de proteção.

“Com recursos do Pronatec, o IFMS custeou o pagamento das bolsas aos professores; a assistência estudantil para ajuda em gastos com alimentação e transporte; a oferta do kit escolar, que inclui uniforme e materiais como pasta e caderno; além da aquisição de ferramentas e sementes”, afirmou o coordenador-geral do Pronatec, Marcelo de Oliveira.

A parceria com o Projeto GATI possibilitou recursos para parte do deslocamento dos professores, alimentação complementar e pagamento de cozinheiras.

Tradição e técnica – Arildo Cebalho, 40, estudou até o quarto ano do ensino fundamental e foi um dos terenas que receberam o certificado de agricultor agroflorestal. Mesmo com a experiência de cultivar a terra desde a infância, aprendeu novas técnicas.

“Aprendemos, por exemplo, a analisar as condições do solo e a irrigar da forma certa. Aqui, nós aguamos no pé da árvore, o que é errado. É preciso regar onde estão as raízes que vão levar a água até a planta. Aprendemos também a preservar as sementes nativas na hora da coleta e a fazer o composto da terra para ter uma boa muda”, relatou Cebalho.

Nas aulas práticas, os professores apresentavam novas técnicas de cultivo, mas também ressaltavam a experiência dos indígenas com a terra.

“O indígena já trabalha a terra de forma sustentável. No curso, eles viram que os sistemas agroflorestais trazem a natureza para dentro da roça. Foi possível casar novas técnicas com o conhecimento tradicional dos indígenas”, comentou Graziella Reis de Santana, colaboradora do Projeto Gati.

Três indígenas de uma mesma família receberam os certificados de agricultores agroflorestais. Cada um tem a própria lavoura, mas todos comercializam as produções de abóbora, mandioca, feijão-de-corda, maxixe e batata-doce em Miranda e Campo Grande.

“No curso, a gente teve acesso a novas tecnologias. Já temos a experiência de cultivar e, agora, ganhamos mais conhecimento”, destacou Inácio Faustino. O terena fez o curso ao lado do filho, Angelo Faustino, e do genro, Rosenildo Candelário.