25 de maio 2015
Seminário de Diálogo Intercultural encerra o Curso Básico de Formação em PNGATI para o Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo
Entre os dias 13 e 15 de maio, na Casa de Cultura da aldeia Sumaré I, na Terra Indígena Xakriabá, em São João das Missões/MG, realizou-se o Seminário de Diálogo Intercultural do Curso Básico de Formação em PNGATI para o Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo. A realização do seminário fez parte do quinto e último módulo do curso, e marcou o encerramento deste. O curso, que teve caráter itinerante, começou em maio de 2014, na cidade de Petrolândia/PE, na vizinhança das Terras Indígenas Pankararu e Entre Serras; passou por Baía da Traição/PB no 2º módulo; na TI Tupiniquim-Guarani, em Aracruz/ES no 3º módulo e na TI Tupinambá de Olivença, em Ilhéus/BA durante o 4º módulo. Em cada um dos módulos foi possível visitar e conhecer de perto as iniciativas e os dilemas de diferentes povos e terras indígenas da área de abrangência da Apoinme (Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo), parceira da iniciativa.
A iniciativa da formação é da Fundação Nacional do Índio, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), do Projeto Gestão Ambiental e Territorial Indígena (GATI), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF).
Apresentando os trabalhos de conclusão de curso
A mesa de abertura do seminário ocorreu na quarta, dia 13.05, à noite e contou com a presença de representantes das instituições parceiras da iniciativa, além do cacique geral do povo Xakriabá, Domingos, representando os anfitriões do módulo e do seminário. Após as falas institucionais foi feita uma dinâmica – o “caminho do curso” – onde os cursistas puderam, por meio de objetos e lembranças, recordar os principais momentos da trajetória do curso. Ao final, foi exibido o vídeo documentário retratando o quarto módulo, realizado na Escola Indígena da Aldeia Acuípe de Baixo, na TI Tupinambá de Olivença, em Ilhéus/BA, que enfocou os instrumentos de gestão (assista aqui).
Nos dois dias que se seguiram foram apresentados os 16 trabalhos de conclusão de curso dos participantes, entre trabalhos individuais, em dupla, ou em grupo. Dos 40 participantes que iniciaram o curso, 28 concluíram, sendo que 29 se envolveram na elaboração dos trabalhos, em diferentes formatos – texto, vídeo, apresentações em PPT e relatos orais.
Entre os trabalhos em vídeo, três foram apresentados em diferentes fases de finalização, enfocando diferentes aspectos da gestão ambiental e territorial das TIs abrangidas pelo curso: Ouricuri: cultura e espiritualidade do povo Tingui Botó, de Ricardo Campos; Cerca de Labirinto: preservação de uma prática milenar do povo indígena Tingui Botó, de Marcos “Sabaru” Alviques; e O Protagonismo da Mulher Xakriabá, de Célia Nunes Correa Xakriabá e Carol Willrich. Simples e curtos, os audiovisuais são um material significativo que pode ser usado em outros processos de ensino aprendizagem.
Outros trabalhos enfocaram vários temas relevantes da gestão territorial e ambiental indígena, como: a prática e a valorização da “agricultura tradicional indígena”, tal como se vem fazendo a gestão na TI Xukuru do Ororubá, em Pesqueira/PE, por Iran Neves Ordonio; a gestão da água e do saneamento básico, e a promoção da saúde na aldeia mãe Tuxá, em Rodelas/BA, por Sônia Elizabeth e Ivo Augusto; a gestão de resíduos sólidos na TI Córrego João Pereira do povo Tremembé, em Itarema/CE, por José Itamar Teixeira Barbosa; os acordos para a gestão do Território Pankararu visando a retirada dos posseiros, por George de Vasconcelos e Maria Aparecida Gomes da Silva; e a discussão sobre os efeitos dos empreendimentos nas Terras Indígenas Tupiniquim-Guarani, Caieiras Velhas II e Comboios, no Espírito Santo, pelos cursistas Josiane Francisco Felício, Paulo Henrique Vicente Oliveira, Antônio Carvalho e Jocinaldo Coutinho.
Alguns trabalhos tiveram como foco a disseminação de informações qualificadas sobre a PNGATI junto às aldeias, como os propostos pelo grupo do sul da Bahia, composto por Deusuleide de Sá Câmara, Antonio Roberto Achel, José Conceição Santana Pataxó e Carolina Peixoto Ferreira (“Conhecendo a PNGATI: comunidades indígenas Pataxó e formação continuada em PNGATI”); pelo grupo Potiguara, composto por Nathan Galdino, Luiz Pereira e Antonio Neto; e, de certo modo, pelo grupo Tuxá, composto por Anália Aparecida da Silva, Francisco Carlos “Dipeta” Santos de Assis e Manoel Uilton dos Santos (“Projeto Sertão Interior. ‘Caty Payty’ - povos indígenas do semiárido).
Encerramento e rodas de conversa
Na noite de quinta-feira, 14 de maio, a título de confraternização, os participantes do curso foram brindados pelos anfitriões Xakriabá com uma série de apresentações e performances culturais realizadas na Casa de Cultura, mostrando um amplo panorama das tradições e influências culturais dos Xakriabá: o toré, o batuque, a moda de viola e o forró. A atividade foi muito envolvente, despertando não só o interesse dos participantes e convidados para o seminário, mas envolvendo-os nas danças e performances.
O seminário se encerrou na sexta, dia 15 de maio, à tarde, com uma roda de conversa com os parceiros convidados para assistir e comentar a apresentação dos trabalhos dos cursistas ao longo dos três dias de seminário. Foi possível ouvir as considerações, expectativas e preocupações dos convidados do ICMBio, Funai, Projeto GATI, Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), Anaí-BA, Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), CIR (Conselho Indígena de Roraima), UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais e Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) quanto à continuidade das ações de gestão e de formação, e aos desafios para a implementação da PNGATI na região. O debate também seguiu com intensa participação dos cursistas. Ao final da roda de conversa, houve a entrega dos certificados de conclusão de curso aos participantes, seguido de um presente dos anfitriões representados pela cursista Celia e cacique Domingos: um pequeno pote de cerâmica Xakriabá decorada Xakriabá contendo doce de leite local.
O quinto e último módulo do curso, contudo, só se encerrou no sábado, quando os participantes e alguns representantes indígenas Xakriabá fizeram uma visita guiada ao Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, unidade de conservação de proteção integral situada no município vizinho de Januária/MG, que tem como objetivo proteger o patrimônio geológico e arqueológico, e amostras representativas de cerrado e demais formas de vegetação natural existentes. Parte da área do Parque encontra-se, hoje, sobreposta a uma extensão identificada como TI Xakriabá. Nessa visita, os participantes percorreram um trecho de mata seca e observaram pinturas rupestres, antes de adentrar na caverna do Janelão, que recebe este nome pelo fato de exibir em vários pontos o seu teto desmoronado, permitindo a entrada de luz e, com isso, o estabelecimento de reboleiras de espécies mais típicas da Mata Atlântica.