20 de novembro 2015

Indígenas discutem mudanças climáticas em reunião ordinária do Comitê Gestor da PNGATI

Em 7ª Reunião Ordinária do Comitê Gestor da PNGATI, lideranças indígenas mencionam descompasso entre acordos climáticos internacionais e propostas legislativas anti-indígenas em curso

Foto: © Funai
Foto: © Funai

“Nós assumimos o compromisso de diminuir a emissão de carbono na atmosfera. Com essa PEC 215, como fica esse compromisso? Para nós, demarcação de terras indígenas é desenvolvimento econômico”. Assim se posicionou a liderança Kulumaka Matipu, representante da Associação Terra Indígena Xingu (ATIX), sobre a Conferência das Partes (COP) da Convenção do Clima das Nações Unidas, que será realizada no mês de dezembro, em Paris. A COP 21 terá como objetivo principal costurar um acordo universal sobre o clima.

As lideranças indígenas presentes na 7º Reunião Ordinária do Comitê Gestor da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas (PNGATI), que ocorre na Sede da Funai, em Brasília, entre os dias 18 e 20/11, foram unânimes na constatação de que a PEC 215 atropela esse acordo internacional.

Tendo em vista o importante papel desempenhado pelas terras indígenas e de comunidades tradicionais como sumidouros de carbono, propostas que visem paralisar procedimentos de demarcação representam um descompasso com os compromissos que o país assume internacionalmente.

Durante o primeiro dia do encontro, representantes do Comitê Indígena de Mudanças Climáticas (CIMC) apresentaram um levantamento dos impactos decorrentes das mudanças climáticas sob o olhar dos povos indígenas do Brasil. Nesse contexto, destacaram a diminuição do estoque de alimentos e plantas medicinais, a migração de animais, o aparecimento de novas pragas na agricultura, mudanças no regime das chuvas, o aumento da ocorrência de queimadas, o assoreamento de rios e a consequente alteração nos rituais associados aos peixes, dentre outros.

As organizações indígenas representadas no Comitê Gestor apresentaram, ainda, posicionamento formal frente à expectativa de celebração do acordo mundial. Para a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), a discussão deve pautar a propositura de um modelo de desenvolvimento alternativo, que vise a uma economia de baixo carbono e que priorize, portanto, a demarcação e a proteção dos territórios de povos indígenas, quilombolas, de pescadores artesanais e das demais comunidades tradicionais e camponesas.  

Nesse sentido, o documento da organização também aponta a necessidade de se “conter o atual modelo agrícola predominante, centrado no agronegócio, uma vez que este implica a invasão de territórios indígenas, quilombolas, áreas de conservação e assentamentos, e em altos índices de desmatamentos, de exploração dos recursos naturais, de contaminação de solos e águas, em detrimento do equilíbrio ambiental, da vida humana e de outras formas de vida”.

Segundo o representante do Ministério das Relações Exteriores, Felipe Ferreira, a expectativa é a de que se adote, ao amparo da Convenção, um acordo que vai substituir o Protocolo de Quioto, prevendo obrigações para todos os países. Nesse sentido, afirmou também que, no escopo das Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas (INDC) apresentadas pelo Brasil, há tanto o reconhecimento do papel das terras indígenas dentro da política de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, quanto a referência a esses povos como populações particularmente vulneráveis a esses impactos. 


Comitê Gestor

O Comitê Gestor da PNGATI (PG PNGATI) constitui-se como órgão de governança da Política, responsável por sua coordenação, execução e acompanhamento. Composto por representantes governamentais e por representantes dos povos indígenas, também possui como objetivo a promoção das articulações necessárias à efetiva implementação da PNGATI.

Nos dois últimos dias da 7ª Reunião Ordinária do Comitê, foi realizada a revisão do Regimento Interno do CG PNGATI e apresentada para discussão, ajustes e validação a versão preliminar do Plano Integrado de Implementação da Política.

O Plano Integrado organiza e estabelece ações, metas e identifica instituições e órgãos executores e parceiros pela implantação dos objetivos específicos da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas, no período compreendido entre 2016 e 2019. Os objetivos são organizados nos seguintes eixos: eixo 1 – proteção territorial e dos recursos naturais; eixo 2 – governança e participação indígena; eixo 3 – áreas protegidas, unidades de conservação e terras indígenas; eixo 4 – prevenção e recuperação de danos ambientais; eixo 5 – uso sustentável de recursos naturais e iniciativas produtivas indígenas; eixo 6 – propriedade intelectual e patrimônio genético; e eixo 7 – capacitação, formação, intercâmbio e educação ambiental.

 

Entendendo a PNGATI

A cartilha “Entendendo a PNGATI“, elaborada no âmbito do Projeto “Demarcação e Proteção de Terras Indígenas”, coordenado pela Funai, com apoio da GIZ, foi lançada no mês de agosto. Seu objetivo é apresentar, com uma linguagem acessível, os eixos da Política, instituída por meio do Decreto nº 7.747, de 05 de julho de 2012, bem como trazer exemplos de iniciativas e experiências desenvolvidas em conjunto por povos indígenas, o Estado brasileiro e instituições e organizações parceiras.