Terra Indígena Caieiras Velha II

Ficha Técnica

Nome
Terra Indígena Caieiras Velha II
Objetivo
Modalidade
Recuperação de áreas degradados
Principais Atividades
- Apoio na construção do projeto de recuperação ambiental previsto no TAC (Fibria/FUNAI/TI’s).
Resultados
Mecanismos
Instrumento(s)
Bioma(s)
Mata Atlântica
Etnia
Guarani Mbyá Tupiniquim
Entidade executora
Entidade financiadora
Assoc. Indígena(s) envolvida(s)
Associação Indígena Tupiniquim e Guarani; Associação Indígena Tupiniquim Comboios; Associação Indígena da Aldeia Pau Brasil
Comunidades envolvidas
Tupiniquim - Caieiras Velhas e Irajá Guarani Mbyá - Boa Esperança, Três Palmeiras e Piraquê-Açu.
Contato
Palavras-chave
Recuperação ambiental

História

A demarcação da TI. Caieiras Velhas, em 1983, deu condições, ainda que precárias, para o retorno mais intenso das famílias a seu território tradicional. Verifica-se; desde então, um aumento demográfico gradativo entre os Tupiniquim, sustentada pelo fortalecimento da auto estima, uma vez que detêm agora o reconhecimento étnico para o respeito a seus direitos fundamentais, ou seja, terra e cultura. O incremento populacional ocorre também entre os Guarani Mbyá que hoje representam mais de 18 % da população da T.I. Caieiras Velhas. A ocupação tradicional em suas aldeias e território se faz através de dinâmicas próprias e seculares e da manutenção de laços de reciprocidade entre aldeias e famílias que habitam
permanentemente o mesmo espaço geográfico. Vivendo em aldeias separadas por grandes distâncias geográficas e envolvidos por sociedades distintas, como a sociedade nacional, os Guarani Mbyá se reconhecem como grupo diferenciado que mantém uma unidade religiosa, lingüística e cultural. O padrão tradicional de ocupação do território Tupiniquim sofreu profundos revezes devido às atividades econômicas empreendidas na região como derrubada de mata nativa e plantio de eucalipto em grande escala pára fabricação de celulose. Os Tupinqiuim caracterizavam-se por uma organização social baseada na agregação de cada grupo doméstico ao seu roçado, o que resultava na dispersão da comunidade dentro de uma
vasta área. Havia regras de acesso à terra que não permitiam a apropriação individual dessas unidades. Esse modo de vida sofreu alterações resultantes de enorme redução das áreas de moradia e plantio e da fixação das famílias em unidades limitadas espacialmente, provocando uma maior concentração de pessoas nas aldeias restantes. Os Guarani-Mbiá localizam-se ao sul da T.I. Caieiras Velhas, seguindo uma distribuição calcada em modo próprio de ocupação do espaço. Nas proximidades da T.I, existem vários empreendimentos em operação, dentre os quais: estação de Tratamento de Esgoto no rio Piraquê e gasoduto.
A Terra Indígena Caieiras Velhas está sob influência direta e indireta de uma série de intervenções de ordem ambiental, com sérias conseqüências para a organização e reprodução dos grupos étnicos que ali vivem. O complexo industrial instalado pela empresa Aracruz Celulose para produção de celulose e derivados exerce influência direta e de grande impacto sobre essa região. Em área de 215.000 ha, a Aracruz possui 141.000 ha de plantios de eucalipto, intercalados com 66.000 ha de reservas nativas constituídas de ecossistemas diversificados. Esses plantios, presentes dentro e no entorno da T.T. Caieiras Velhas, trouxeram como conseqüência a inegável redução da biodiversidade, a proliferação de insetos e fungos, o
desaparecimento de aldeias, com a diminuição de seus territórios tradicionais, e uma profunda alteração nos padrões culturais das etnias que ali vivem. Na direção NE-SM' corta a terra indígena uma tubulação de rede de esgotos sanitários que despeja os efluentes in natura na margem do rio Piraquê-Açu: Casos de vazamento de tubulação de esgoto já foram registrados na região, sendo o mais grave o que ocorreu em 1998 próximo à aldeia Três Palmeiras que pode ter provocado a morte de uma criança Guarani. Análises bacteriológicas de amostras de águas coletadas durante os
trabalhos de campo do GT em diferentes pontos da terra indígena (escolas das aldeias Caieiras Velhas e Três Palmeiras, saída da tubulação da rede de esgoto), constataram a presença de coliformes fecais e coliformes totais em grande quantidade. Outra interferência. na T.I. Caieiras Velhas é a tubulação do gasoduto da Petrobrás, proveniente da Plataforma de São Mateus/ES, que corta um trecho de 2,5 km de extensão situado à margem da rodovia ES-10. O gasoduto, construído em 1983, subtraiu aos índios áreas de roça, importantes para a sua subsistência, além de submetê-los aos riscos decorrentes desse tipo de intervenção.

Na Terra Indígena Caieiras Velhas, as atividades econômicas predominantes continuam sendo a agricultura e a pesca, apesar das sérias alterações ambientais decorrentes do plantio de eucalipto nas regiões que circundam as aldeias, levando a alterações em alguns hábitos tradicionais de organização espacial e formas de produção. Os índios mantém suas culturas de feijão, mandioca, milho dentro de práticas agrícolas tradicionais como o sistema de "descanso" da terra por um ou dois anos, o uso do calendário lunar, a preservação das áreas de matas remanescentes. Além das formas tradicionais, a venda de produtos como o coco na época do verão, café, mariscos e artesanato para a população local e turistas constitui outra forma de obtenção de recursos para a sobrevivência do grupo.

Depoimentos