7 de março 2014

Reunião em Dourados (MS) discute o Programa Mosarambihára - Formação de “Semeadores” Guarani Kaiowá

Um dos objetivos da reunião foi estabelecer parceria com a UFGD para implementar a Formação de “Semeadores” Guarani Kaiowá.
Participantes da reunião na FAIND/UFGD em Dourados (MS). Foto: ©Robert Miller/Projeto GATI.
Participantes da reunião na FAIND/UFGD em Dourados (MS). Foto: ©Robert Miller/Projeto GATI.

No dia 24 de fevereiro, em Dourados (MS), técnicos do Projeto GATI (Gestão Ambiental e Territorial Indígena) e da Fundação Nacional do Índio (Funai) realizaram reunião com professores e acadêmicos da Faculdade Intercultural Indígena – FAIND da Universidade Federal de Grande Dourados - UFGD para discutir a proposta Programa Mosarambihára - Formação de “Semeadores” em Terras Indígenas (TIs) Guarani Kaiowá. Um dos objetivos da reunião foi estabelecer parceria com a UFGD para implementar a formação. Esta proposta surge em decorrência dos trabalhos realizados pela consultora do GATI e especialista em formação e educação escolar indígena, Ingrid Weber, atendendo à demanda posta pelo movimento indígena para um centro de formação no Mato Grosso do Sul. Como parte de suas atividades, a consultora promoveu um intercâmbio de representantes indígenas do MS a dois centros de formação indígena na Amazônia, o Centro de Formação dos Povos da Floresta, em Rio Branco-AC e o Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol, em Roraima (clique aqui os vídeos dos intercâmbios para Raposa Serra do Sol e aqui para Rio Branco-AC).

Após este intercâmbio, os representantes indígenas, a maioria conselheiros regionais do Projeto GATI, optaram por duas frentes de atuação. Sendo assim, foram realizados dois seminários para debater propostas de formação indígena, em Aquidauana, com representantes Terena, e em Dourados, com representantes Guarani Kaiowá. O seminário Terena consolidou a ideia de “Casa de Formação”, espaço feito dentro dos moldes tradicionais para ser local de encontro e troca de informações, como também de reflexão sobre produção agrícola e sustentabilidade.  Na TI Cachoeirinha, a aldeia Mãe Terra já reservou uma área de cinco hectares para implantação da casa de formação, incluindo área de plantios. E na TI Taunay/Ipegue está sendo construído um “Espaço GATI” como casa de formação.

O seminário Guarani Kaiowá em Dourados resultou na proposta de “Formação de Semeadores – Mosarambihára” englobando ações nas três TIs Guarani Kaiowá que são áreas de referência do Projeto (Jaguapiré, Pirakuá e Sassoró) e em mais duas TIs onde há experiências consolidadas com agroecologia, viveiros e recuperação ambiental. Estas são a TI Caarapó, onde Eliel Benites, educador Guarani Kaiowá, atualmente professor da FAIND/UFGD, desenvolve trabalhos há mais de 10 anos na aldeia Te’yikue; e a TI Panambizinho, onde Anastácio Peralta, liderança Guarani Kaiowá, desenvolve experiências com agroflorestas e recentemente aprovou projeto junto à ONG Manos Unidas.

Visando agregar as experiências de Caarapó e Panambizinho à formação a ser apoiada pelo Projeto GATI, a proposta de Formação de Semeadores – Mosarambihára traz uma dinâmica de cinco módulos itinerantes, com cada TI desenvolvendo um módulo a partir de iniciativas potenciais ou em andamento naquela região. A TI Pirakuá, por exemplo, possui área significativa de floresta conservada, e é visitada por representantes de outras TIs para fins de coleta de mudas e sementes de espécies nativas. Este potencial, junto com outras iniciativas em curso, será trabalhado durante o módulo a ser realizado naquela TI.

TI Pirakuá, região Guarani Kaiowá com significativa área de floresta conservada. Foto: ©Robert Miller/Projeto GATI.
TI Pirakuá, região Guarani Kaiowá com significativa área de floresta conservada. Foto: ©Robert Miller/Projeto GATI.
OPY (casa de reza) na TI Panambizinho. Foto: ©Robert Miller/Projeto GATI.

Acima de tudo, porém, a formação contará com os rezadores, lideranças espirituais tradicionais dos Guarani Kaiowá, que farão uma grande reza em cada local, contribuindo para que  o ñande reko – o jeito de ser Guarani Kaiowá - seja o objetivo principal da formação, com a retomada dos valores culturais. A Casa de Reza será o espaço de formação, e juntamente com a produção de alimentos, será um modelo ou núcleo para discutir sustentabilidade e recuperação ambiental dentro do conceito de ñande reko. Os “semeadores” serão alunos formados principalmente a partir dos valores como a espiritualidade e cosmologia tradicional Guarani Kaiowá e da reflexão sobre o processo histórico da relação com a sociedade envolvente, como forma de contextualizar as ações de gestão territorial e dialogar com as novas tecnologias ocidentais.

Próximos Passos

Durante a reunião definiu-se os próximos passos para efetivar uma rede de circulação de saberes e práticas, a partir do protagonismo indígena na definição dos conteúdos e calendário. Dentro dessa lógica, a próxima instância de pactuação e planejamento será a reunião do Conselho Regional do Núcleo Pantanal/Cerrado do Projeto GATI, que agrega representantes das 6 áreas de referência (TIs) no Mato Grosso do Sul com representantes da Funai, Ministério do Meio Ambiente e instituições parceiras.

Técnicos do GATI e da Funai visitando canteiros agroecológicos na TI Panambizinho. Foto: ©Robert Miller/Projeto GATI.

Aproveitando a estadia em Dourados, os técnicos do Projeto GATI realizaram reunião de equipe, na manhã do dia 25, e na parte da tarde, visitaram a TI Panambizinho. Na manhã do dia 26 realizaram reunião com o Coordenador Regional da Funai/Dourados, Vander Nishijima e técnicos, com o objetivo de discutir aspectos logísticos relacionados à Formação Mosarambihára.